ASSOCIAÇAO DO CAVALO PERSA MARCHADOR BRASILEIRO

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SÉRIE: O FASCINANTE MUNDO DOS CAVALOS PINTADOS

PARTE XI - PERSA MARCHADOR BRASILEIRO

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    Cavalos da raça Persa Marchador Brasileiro na região do
    Vale do Jequitinhonha,MG , onde a raça foi desenvolvida


Conforme relatado nas 9 partes anteriores da série “O Fascinante Mundo dos Cavalos Pintados” todas as associações de criadores, ou simplesmente um serviço independente de Registro Genealógico, foram constituídos com o objetivo principal do resgate e preservação. Todavia, algumas escolhas de cruzamentos não foram acertadas para preservação de características raciais originais. Uma breve retrospectiva dos cavalos pintados no mundo: 

 

Nez Perce - Foi a primeira seleção nos EUA, desenvolvida pela tribo indígena Nez Perce no norte do estado de Idaho. A origem foi nos cavalos levados ao continente americano pelos exploradores espanhóis, muitos dos quais eram de andamento marchado, na modalidade marcha picada, que os índios Nez Perce denominavam de “Indian Shuffle” (tradução - andamento embaralhado, misturado). Devido às guerras por disputa por terras a tribo Nez Perce perdeu grande parte dos cavalos, que foram soltos na vida selvagem. O registro genealógico para resgate foi implantado no final do século passado, mas devido ao reduzido rebanho foram feitos cruzamentos com raças esportivas, o andamento marchado foi quase que perdido.

 

Appaloosa - Foi a primeira associação a registrar cavalos pintados, mas não conseguiu preservar os cavalos originais Nez Perce e fez cruzamentos com Quarto de Milha, Árabe, PSI. O Appaloosa moderno é um “Quarto de Milha pintado”. 

 

Walkaloosa - criadores da associação Appaloosa, insatisfeitos com a proibição do registro de cavalos de andamento marchado, fundaram a Walkaloosa Horse Association para resgatar a seleção dos “pintados marchadores” e oficialmente denominam a marcha de “Indian Shuffle”, sendo uma marcha picada bem definida, com elevada prevalência da dissociação no grau 2. Os cruzamentos com a raça Tennessee Walker são aceitos, para favorecer o andamento marchado. 

 

Tiger Horse - A origem é nos cavalos “El Tigre” da Espanha, que integram o grupo genérico de cavalos espanhóis conhecidos como “Spanish Jennets”. 

 

Soulon Tiger Horses - São os cavalos que misturam os tipos Soulon da China e El Tigre da Espanha. Na china os Soulon horses têm origem nos Ferghana horses, que estão entre os mais antigos pintados do mundo, viviam em estado selvagem nos vales das montanhas Ferghana.

 

Spanish Jennets - conforme explicado nunca representaram na Espanha uma raça, mas um grupo de cavalos de várias origens, que foram introduzidos na Espanha por comerciantes europeus e asiáticos, mas principalmente pelos mouros (dos cavalos Bérberes) quando invadiram a península Ibérica. Os cavalos espanhóis exerceram influência em mais de uma dezena de raças nos EUA e na América do Sul nas raças Paso Fino e Peruano de Paso. 

 

Colorado Ranger - A origem foi em 2 garanhões importados da Turquia , de sangues Árabe e Berbere. Mas boa parte das éguas que serviram, e pelos filhos, tinham a genética dos cavalos de origem nos primeiros cavalos introduzidos pelos conquistadores espanhóis.

 

Noriker - Assim como os Soulon horses, da China, os pintados da Austria são de biotipo tração e estão entre os mais antigos do mundo. Originalmente foram criados pelos gregos, depois pelos romanos e austríacos, e houve influência de cavalos da Pérsia , outro grupo de pintados da origem mais antiga.

 

Knabstrupper - Pintado da Dinamarca, a origem foi nos cavalos espanhóis através do cruzamento de uma égua com um garanhão de origem Dinamarquesa. 

 

Portanto, quase todos os “pintados” têm em comum a origem nos cavalos espanhóis, sendo que os cavalos espanhóis pintados têm origem nos mais antigos do mundo, que são cavalos Nisean que habitavam a região de Nasaia na antiga Pérsia, atualmente região norte do Iran.

 

Esta última parte da série O Fascinante Mundo dos Cavalos Pintados é um “fechamento com chave de ouro”, um relato sobre a mais nova raça brasileira - Persa Marchador Brasileiro. 


O autor do artigo montado em cavalo Persa Marchador Brasileiro

da criação do Haras Recanto, em Rubim-MG

 

O nosso cavalo pintado tem identidade própria, a começar pelo nome, pois o mundo dos cavalos pintados denomina a pelagem de “Leoparda”. Muitas pessoas chamam de Appaloosa, porque tem relação com a raça mais conhecida e tendo sido a primeira a iniciar o registro genealógico. Como pelagem Appaloosa são aceitas todas as variedades de pelagem do complexo leopardo, e não apenas a variedade leopardo. 

 

A origem da terminologia Persa, assim adotada no Brasil, para definir uma pelagem, e os cavalos portadores dessa pelagem, é exatamente a região da Pérsia, atual território do Iran. Portanto, a raça Persa Marchador Brasileira é a única do mundo fiel à origem da raça.

 

Os primeiros cavalos de pelagem Persa, considerando a variedade Leopardo, foram introduzidos no Brasil antes da introdução dos “Appaloosas americanos”. Há um registro de 1927, através do circo Sarrazani, de cavalos do golfo pérsico, de uma raça conhecida como Mysjid. Mas a maioria dos cavalos pintados dos circos eram de origem nos dinamarqueses Knabstruppers, que também foram levados para Uruguai e Argentina e de lá alguns vieram para o Brasil . 

 

Os Knabstruppers eram do tipo mais original, tipo Barroco, antes da entrada de Appaloosa na Dinamarca e dos cruzamentos para a seleção do tipo esporte. A via de introdução através dos circos ocorreu ao longo do século passado e aqui permaneceram alguns daqueles cavalos de beleza ímpar, através de comercializaçã . 

 

Uma outra via de fomento dos cavalos pintados no Brasil foi através dos ciganos, que vendiam os famosos tapetes persa e os cavalos pintados, tanto que os cavalos pintados eram chamados em algumas regiões de “cavalos dos ciganos”. 

 

Na Pérsia os cavalos pintados eram famosos por serem montarias dos reis, príncipes, condes dentre outros nobres. Todavia, tal fama não influenciou o fomento desses cavalos no Brasil. A própria beleza fascinante da pelagem foi o que atraiu importantes criadores . 

 

Na década de 70 século passado o criador paulista Tony Pereira fundou a Associação Brasileira do Cavalo Persa, mas o objetivo era o uso no hipismo clássico, os cavalos pintados eram trotadores, como são os Knabstruppers. Mas a associação durou poucos anos, após o fortalecimento da associação Appaloosa do Brasil e o próprio fundador , Tony Pereira ter dedicado mais atenção ao criatório de cavalos Luzitanos. 

 

No final da década de 30 do século passado um tradicional criador mineiro , Cel. Lídio Araujo , da Fazenda Aliança , em Joaima , região do Vale do Jequitinhonha, importou da Argentina algumas éguas pintadas e um reprodutor, de origem na raça Knabstrupper, tendo sido as “sementes” de um “fruto” que se transformou em raça Brasileira, e de andamento marchado, porque os cruzamentos na fazenda Aliança foram com garanhões Mangalarga Marchador. Portanto, a origem da marcha foi da raça Mangalarga Marchador. 

 

O Cel. Lídio Araujo foi um criador avançado para a época, de visão futurista. A importação repercutiu nacionalmente no meio agropecuário tendo sido chamada “arca de noé”, pois foi uma diversidade de animais. Os cavalos persas, como já eram assim chamados na Argentina, foram preparados para serem linha de frente das comitivas que levavam as boiadas para serem vendidas na Bahia. As passagens pelas cidades faziam sucesso pela beleza dos cavalos pintados na linha de frente, os vaqueiros levando bandeiras do Brasil, MG e da fazenda Aliança. 

 

Naquela época a tropa de cavalares usados na lida de campo na fazenda Aliança era quase toda de cavalos pintados. Os vaqueiros exaltavam os cavalos pintados como sendo tão resistentes quanto os muares, e mais corajosos, mais valentes para lidar com o gado de corte bravio. 

 

O Cel. Lídio faleceu novo, antes dos 50 anos. A esposa D. Maria Araujo, juntamente com o filho Eduardo Araujo, deram continuidade às criações numerosas de cavalares, muares e asininos. 

 

D. Maria Araújo montada em cavalo Persa cria da Fazenda Aliança

 

O pioneirismo do Cel Lídio Araujo em iniciar uma seleção de cavalos “pintados” de andamento marchado despertou atenção de outros criadores importantes, seduzidos pela beleza do cavalo pintado, como o Haras Recanto em Rubim, também na região do Vale do Jequitinhonha, o Haras Porto Azul, em Guarapari - ES, a Tosana Agropecuário no RJ, em Sergipe o criador Antonio Messias, dentre outros. 

 

Da raça Mangalarga Marchador o cavalo Persa Marchador Brasileiro herdou as genéticas Garrano, Sorraia, Bérbere e Alter Real. Esta composição genética torna o Persa Marchador Brasileiro diferente de todos os “pintados” de outros países. 

 

Marchador, porque é natural de marcha, e também porque descende da raça Mangalarga Marchador. 

 

Se houver por parte da Associaçao do Cavalo Persa Marchador Brasileiro uma defesa segura contra os 2 inimigos da raça - os exóticos Appaloosas e a genética Mangalarga (“paulista”) que predomina no cenário atual da raça MM, o futuro será promissor para o Persa Marchador Brasileiro, que tem valores zootécnicos para ser o melhor do fascinante mundo dos cavalos pintados.

 


Texto por Lúcio Sérgio de Andrade, 05/07/20